sábado, 24 de setembro de 2016

Paddy Cosgrave sobre Portugal: "Muita gente importante que estava em Berlim está a mudar-se para Lisboa"


Lisboa vai receber, durante pelo menos três anos, a Web Summit. Este ano, o Meo Arena vai ser palco, de 7 a 10 de novembro, deste que é um dos mais importantes eventos europeus de tecnologia, empreendedorismo e inovação. A cimeira espera de 50.000 participantes, de mais de 150 países, incluindo mais de 20.000 empresas, 7.000 presidentes executivos, 700 investidores e 2.000 jornalistas internacionais.

Para o público em geral ainda há ingressos à venda, por 700 euros. Em setembro foi conhecido o resultado do Road 2 Web Summit, um concurso à escala nacional que selecionou 66 start-ups portuguesas que em novembro vão ter que mostrar, o que de melhor se faz em Portugal no que diz respeito a empreendedorismo tecnológico.

Os empreendedores selecionados vão ter também uma espécie de formação para que possam tirar o melhor partido possível da presença no Web Summit. Já a Born from Knowledge, iniciativa do Ministério da Ciência e Ensino Superior, escolheu dois mil voluntários no âmbito universitário. O objetivo é que em troca de um dia de trabalho no evento tenham acesso, de forma gratuita, aos outros dois dias.

A outra boa notícia é que a Web Summit vai abrir o seu primeiro escritório fora da Irlanda e vai ser no novo Hub Criativo de Lisboa, em Marvila, um espaço de três mil metros quadrados cedido pelo Ministério das Finanças e da Defesa. O espaço servia de armazém militar. Para o escritório da Web Summit em Portugal vão ser contratados, principalmente, comerciais, engenheiros e project managers. Paddy Cosgrave, o fundador da Web Summit, admite que Portugal foi o país escolhido porque tem muito talento escondido, cafés baratos e um sol sem comparação.

Nos quatro dias de Web Summit em Portugal vai, ainda, haver workshops, e sessões de treino intensivo que visam dotar as startups de uma melhor preparação para o futuro. Haverá ainda um "Espaço Ecossistema", onde as startups e incubadoras foram convidadas a expor o seu projeto e que conta assim com mais de uma centena projetos em exibição. No total são esperados cinco mil portugueses.

No dia do anúncio da instalação em Portugal do primeiro escritório da Web Summit fora de Portugal, Paddy Cosgrave aceitou falar com APDSI.

Porque é que há tanta gente a querer estar presente na Web Summit?
Eu acho que vêm porque oferecemos um produto que é muito atrativo. Vêm para conhecer outras pessoas que podem ajudar nos seus negócios ou, de alguma maneira, nas suas vidas profissionais. Vêm para se divertirem nos eventos de final de tarde, o que também é muito importante, e vêm para aprender com os nossos speakers incríveis com quem, normalmente, não conseguiriam entrar em contacto. Portanto, ter centenas de pessoas, que estão no topo da tecnologia, todas a falarem sobre as suas experiências, é uma oportunidade fantástica quer fabriques cortiça, whisky ou carros. Podes aprender sobre como o marketing está a mudar ou qual o melhor software para o teu negócio.

Quantos profissionais espera vir a contratar para o seu escritório em Lisboa?
Nos últimos meses contratámos gente incrível em Portugal que está a trabalhar nos nossos escritórios em Dublin. Senti-me inspirado pelas pessoas que entrevistei e comecei a achar que devíamos mesmo abrir um escritório aqui, o talento é surpreendente e mal posso esperar para começar a contratar os primeiros funcionários para Lisboa, cerca de uma dúzia, para começar. Quanto mais gente encontrar, mais gente irei contratar com certeza. Somos uma empresa jovem, com um crescimento rápido, por isso, estas coisas não são fáceis de prever. Há seis anos tínhamos 400 participantes nas conferências e eu nunca pude prever que viriam a ser 5.000. Se, na altura, me perguntassem por previsões de crescimento, eu apontaria para umas mil pessoas, por isso, quem sabe o que o futuro nos reserva? Agora estamos apenas focados na Web Summit em novembro; vamos começar a contratar logo a seguir ao evento.

O que Portugal tem a ganhar ao acolher a Web Summit?
A grande mudança que aconteceu nos últimos anos foi que os investidores internacionais começaram a ficar muito interessados nas jovens empresas portuguesas. E a seriedade deste interesse é sublinhada pelo facto de estar, realmente, a haver investimento estrangeiro em Portugal que vem do resto da Europa, da Ásia e de Silicon Valley. Portanto, as empresas portuguesas dificilmente conseguirão outra oportunidade de serem vistas por cerca de mil investidores que cá estarão nesses quatro dias.

Costuma aconselhar os investidores?
Não, eu não digo a nenhum investidor onde deve investir. O que faço é proporcionar encontros mas cabe aos empreendedores criarem uma boa história para apresentar o seu negócio. Eu conheço alguns empreendedores portugueses e sei que vocês não têm dificuldades em atrair grandes investidores.

As empresas que se apresentam na Web Summit têm todas uma forte ligação às novas tecnologias, correto?
Nem por isso. Muitas das startups que aqui chegam não estão diretamente relacionadas com a tecnologia; vêm de outras áreas já seguras, inspiradas em grandes empresas dos mais variados setores, até dos mais tradicionais. Sim, há gente que vem dos setores tradicionais que vem apenas por curiosidade, para saber como é que as tecnologias influenciam os seus negócios e eu acho que isso ainda vai tornar o evento mais interessante.

Porque escolheu Portugal para instalar o seu primeiro escritório fora da Irlanda?
Porque eu já tinha lido que Portugal era o país mais ensolarado de toda a Europa, e é! Porque continuo a achar estranho ir a um café, pedir uma bica e pagar 60 cêntimos! É de loucos! [risos] As ruas são inacreditavelmente vibrantes. Se eu quiser ir fazer surf é só ir, literalmente, até ao fundo da rua. O meu irmão vivia em Berlim e mudou-se para cá. Havia muita gente que estava em Berlim, gente importante, porque era uma cidade super fixe, considerada a capital da Europa, e que está a mudar-se para Lisboa, não para outro destino qualquer, portanto isso há-de dizer alguma coisa sobre a cidade.

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