sexta-feira, 28 de novembro de 2014

APDSI quer uma web sem restrições para os cidadãos com necessidades especiais



A APDSI e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., realizaram, a 27 de novembro de 2014, o Fórum da Acessibilidade Web 2014. O encontro realizou-se na Fundação Portuguesa das Comunicações, em Lisboa.

Na edição deste ano foi apresentado o estudo “Acessibilidade Web - Ponto de situação nas empresas portuguesas 2014”, da autoria de alunos e professores da UTAD (Universidade de trás os Montes e Alto Douro), membros do Grupo de Negócio Eletrónico (GNE) da APDSI, também foram dadas dicas para os programadores informáticos melhorarem a acessibilidade dos sites que constroem, além de terem sido apresentados os resultados dos níveis de acessibilidade dos conteúdos web dos municípios portugueses e no setor da saúde.

No estudo sobre Acessibilidade Web feito aos 790 sites das 1000 Maiores PME’s Portuguesas, e que teve em conta uma média de 2742 elementos por site (conteúdos das páginas), concluiu-se que apenas quatro desses sítios na web cumprem as normas de acessibilidade. Este número apresenta um decréscimo em relação ao estudo apresentado em 2011, no qual 155 empresas estavam de acordo com a norma, mas é preciso ter em conta que no estudo anterior o objetivo era cumprir com as WCAG 1.0 (Web Content Acessibility Guidelines) e no mais recente o padrão de avaliação subiu para as WCAG 2.0. Apesar de não haver diferenças muito substanciais entre um e outro conjunto de diretivas, a verdade é que as normas WCAG 2.0 se focam nas mais recentes tecnologias de navegação na web e naquelas que virão a tornar-se de consumo massivo a breve prazo. Este estudo, que o professor Ramiro Gonçalves define como «o maior alguma vez feito pela equipa de investigação», também introduz, pela primeira vez, uma análise geográfica relativa às zonas com maior ou menor incidência de erros nos sites. O interior do país é onde se verifica uma maior percentagem de sítios na web que não estão em conformidade sendo que, como explica o professor, «isto só acontece porque também é a zona com menos empresas e menos sites, portanto, basta haver um que tenha erros que vai logo influenciar muito o resultado final».

Sobre os resultados que, mais uma vez, não são muito positivos, o professor Ramiro Gonçalves aponta o dedo à falta de sensibilidade por parte dos responsáveis técnicos: «Todas as entidades procuram visibilidade na web e esquecem-se que os motores de busca se baseiam precisamente nos mesmos elementos que são valorizados quando falamos de acessibilidade web. Incorporar deve ser algo sempre presente na web. Há 10% de pessoas em Portugal com alguma necessidade especial e mais de 70% utilizam a Internet com regularidade mas há pouca sensibilidade para esta temática e uma manifesta falta de informação». O investigador da UTAD e membro do GNE da APDSI acredita que a atribuição de um prémio, e não propriamente o denunciar dos erros, poderia ajudar a combater alguma desta ausência de conformidade para com a acessibilidade web.

“Melhorar a Acessibilidade Web - Uma Estratégia Baseada na Correção dos Erros Mais Comuns” foi apontada por José Martins, também investigador da UTAD, que apontou as soluções «simples de corrigir» para os cinco erros com maior incidência nos resultados do estudo deste ano: a utilização de tamanhos relativos em detrimento de tamanhos absolutos, ou seja, o tamanho da página é definido em píxeis em vez de ser definido em percentagens; imagens sem “alt”, a alternativa textual para os conteúdos multimédia que é essencial para poderem ser lidas por ferramentas de navegação assistida; o contexto dos links, onde falta um texto intuitivo para o descrever; o destino dos links, em que muitos navegam para uma nova página sem avisar o utilizador, o que o faz perder o contexto de navegação; vários links com o mesmo nome a encaminharem para sítios diferentes.

«As boas práticas de programação e coerência são garantia de um bom resultado final. Existe um conjunto de erros facilmente corrigíveis que lhes ia melhorar muito os níveis de acessibilidade da web», aponta José Martins como solução no imediato para correção das grandes falhas encontradas na pesquisa.

Coube a Jorge Fernandes, da FCT, mostrar os resultados para a análise feita à “Acessibilidade dos Conteúdos Web dos Municípios Portugueses” onde foi possível chegar ao top 5 dos sítios com melhores práticas de acessibilidade. São eles Loures, Alcoutim, Soure, Faro e Aljezur. A amostra foi de 307 dos 308 sites de municípios portugueses (apenas um é de tal forma lento que a ferramenta “access monitor” não o consegue avaliar). Apesar de ainda haver diversos aspetos a corrigir, mesmo entre os sites que estão no top 5, Jorge Fernandes avalia de forma positiva a evolução que os sites das autarquias têm registado: «Em 2001 muitos dos sites das autarquias eram apenas um cartão de visita ou um site de jogos para crianças. Em 2005 houve um impulso grande e os sites começaram a ganhar corpo e a tornarem-se adultos». O investigador da Fundação para a Ciência e Tecnologia esclareceu, ainda, que todos os sites que disponibilizem exclusivamente informação estão obrigados a cumprir o nível “A” das WCAG 2.0, desde fevereiro de 2013, e o Regulamento Nacional de Interoperabilidade Digital recomenda mesmo para este tipo de sítios web o nível “AA”. Todos os sites que disponibilizem serviços online estão obrigados a cumprir o nível “AA” das WCAG 2.0 e o RNID recomenda o nível “AAA” para este tipo de sítios Web. A legislação não se aplica, contudo, a entidades privadas.

Ana Neves, diretora do departamento da Fundação para Ciência e Tecnologia que nasce da extinção da UMIC - agência para a sociedade do conhecimento, sublinha que, ao nível europeu, Portugal está isolado de forma positiva em relação aos outros Estados Membros nestas questões de acessibilidade web: «Entendemos que o desenvolvimento do país requer plataformas, inclui trabalho em rede e a partilha de objetivos comuns. Pessoas com necessidades especiais também são os idosos. A Internet permite reduzir muitos obstáculos de acessibilidade, o que é preciso são ajudas técnicas que satisfaçam normas básicas de acessibilidade».

A fechar o Fórum da Acessibilidade Web da APDSI, Pedro Moreira, da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade Nova de Lisboa, apresentou os resultados da sua análise à Acessibilidade dos Conteúdos Web no Setor da Saúde nas áreas de Administração Direta do Estado, Administração Indireta do Estado, Setor Empresarial do Estado, Parcerias Público-Privadas, Unidades de Saúde Familiar e Setor Público Administrativo, tendo sido este o que apresenta melhores resultados.

Veja aqui as apresentações do Fórum da Acessibilidade Web 2014.

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