domingo, 8 de novembro de 2009

Sociedade da Informação em Portugal - Entrevista de Fátima Caçador(FT) a José Dias Coelho (JDC) para o Jornal de Negócios

(FC) Nos últimos anos assistimos a grandes mudanças a nível da infra-estruturação tecnológica em Portugal e da evolução dos indicadores, mas há muitas críticas de que esta é apenas uma das faces visíveis, que atinge uma franja ainda curta da sociedade e que não é suficiente para mudar o país. Quer comentar?

(JDC) Portugal já possui algumas infra-estruturas tecnológicas a nível médio na Europa, mas ainda apresenta enormes carências na cultura de uso. É aí que se têm de concentrar os esforços no futuro.
Se essa meta for concretizada não se pode pôr em causa a bondade do esforço de desenvolvimento de infra-estruturas concretizado no passado recente.

(FC) O Plano Tecnológico ajudou a criar uma nova dinâmica na economia e na atitude das empresas face à inovação. Teme que a actual crise possa afectar esse posicionamento? Em tempo de orçamentos curtos muitas empresas cortam precisamente no I&D...

(JDC) O Plano Tecnológico é mais uma agenda de iniciativas do que um verdadeiro plano, por ausência de integração plena das suas acções. A esse propósito recordo a posição do Grupo de Alto Nível da APDSI que numa tomada de posição em 2006 afirmou que o Plano Tecnológico não era um plano operacional, nem um plano estratégico. Apesar de tudo, em virtude do impacto como imagem de marca do XVII Governo Constitucional, acredito que o novo Governo do Partido Socialista irá dar continuidade ao Plano Tecnológico.

(FC) A visão do Portugal mais tecnológico tem sido muitas vezes transmitida por franjas de sectores económicos e continua a mostrar muitas diferenças, sobretudo a nível regional. Vamos ter sempre um país a duas ou três velocidades diferentes?

(JDC) Sim. Não há como não ser. Sempre que há uma aproximação a um estádio de desenvolvimento superior, haverá sempre sectores socioeconómicos ou geográficos que andarão à frente.

(FC) Entre as medidas tomadas nos últimos três anos no Plano Tecnológico quais são as que destacaria como mais relevantes e quais as que acredita que devem ser reforçadas nos próximos anos?

(JDC) As medidas que considero mais relevantes são o desenvolvimento da banda larga, o e-escolas, o-escolinhas e indirectamente tudo o que se relacionou com o programa SIMPLEX da administração pública.

(FC) A ideia da criação de clusters em Portugal como forma de desenvolvimento de determinados sectores por via da agregação de competências continua a ser defendida. Tem conhecimento de projectos em desenvolvimento? Para além do cluster da saúde e de um cluster tecnológico que outras áreas fazem sentido desenvolver? Ou devemos fixar-nos em duas ou três áreas de maior potencial?

(JDC) Desde o relatório Porter que é claro que, para um país com a dimensão de Portugal, tem de haver uma aposta clara no desenvolvimento de clusters, para os quais seja possível criar vantagens competitivas. Para além dos clusters já existentes que merecem apoio, para aumento da sua qualificação tecnológica, acrescentaria o sector das indústrias TIC, a biotecnologia e as indústrias das energias renováveis. Estes sectores fariam Portugal saltar para um nível de desenvolvimento superior.

(FC) As grandes mudanças fizeram-se também na modernização da Administração Pública, com uma visão mais orientada para servir os cidadãos e empresas. Que medidas destacaria como mais relevantes?

(JDC) Foram relevantes e continuarão a ser, dado que ainda muito há para fazer, a desmaterialização da relação com o cidadão, a interoperabilidade na administração em rede e a simplificação interdepartamental. O Simplex Autárquico deverá dar continuidade das acções anteriores ao nível da administração pública local.

(FC) Apesar desta modernização o cenário na AP está também longe de ser "cor de rosa". Na sua opinião quais são as principais áreas onde é preciso intervir?

(JDC) O cadastro territorial é ainda uma enorme lacuna. Deverá insistir-se na desmaterialização dos licenciamentos e no Simplex Autárquico. Daqui em diante, os grandes objectivos deverão ser promover e assegurar transparência dos processos, oferecer segurança da informação e estimular o desenvolvimento das arquitecturas da informação para permitir a interoperabilidade plena.

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